Blog do Cadu Doné

Dilemas do Cruzeiro

  • por em 23 de março de 2023

Pepa, novo treinador celeste, terá tarefa, digamos, traiçoeira: substituir um nome altamente reverenciado pela torcida. FOTO: THOMÁS SANTOS/STAFF IMAGES/CRUZEIRO

Natural a preocupação do torcedor celeste com a saída de Paulo Pezzolano. No ano passado, o Cruzeiro abocanhou a Série B com o pé nas costas não por ter um elenco claramente superior aos seus rivais de certame: o fez a despeito da limitação geral das suas peças. A Raposa nadou de braçadas na segunda divisão em 2022 com o que chamo de um típico “time de treinador”, cenário que advém quando notamos que o clique, o encaixe se materializa, de modo acentuado e peculiar, qual um produto do mentor intelectual da engrenagem – e não primordialmente como resultado essencial da expertise da mão de obra por ele chefiada.

Dois sustentáculos do acesso cinco estrelas: o esquema tático, o conjunto, o entrosamento do todo, e a absurda entrega física de cada uma das partes que o compunham. O que o esquadrão brigava, não está no gibi. Não por acaso, frequentemente Pezzolano mudava escalações, invariavelmente fugindo do óbvio e até retirando quem entregara bastante num passado totalmente imediato; o comandante uruguaio fazia questão de uma intensidade abissal, premissa inegociável no andamento da sua gestão – muito provavelmente, não apenas por possuir tal idiossincrasia, mas também por perceber que o talento à sua disposição não era farto (logo, o êxito não poderia chegar de outra maneira).

Se o plantel que trouxe o Cruzeiro de volta à elite do futebol brasileiro recheava-se de operários tão desconhecidos quanto obstinados, para este ano, nomes mais badalados aterrissaram na Toca. A maioria deles não exatamente no auge, embora não necessariamente num ocaso cristalino e claramente irreversível. Me parece, todavia, que considerável fatia destes jogadores aos quais me refiro não carrega hoje condições de emular, de edificar um sistema que prima por uma correria tresloucada. E, para completar, tenho sérias dúvidas se a qualidade que estes de fato possuem a mais do que seus antecessores compensa a energia que exibem menos do que os mesmos – ainda que não desconsiderando que é mais fácil ensinar um virtuoso a se esforçar do que o contrário. A descrita e intrincada equação desanimou Pezzolano? Se este realmente já se inclinava a sair desde dezembro, não devemos encontrar aqui o xis da questão; talvez, contudo, não ajudou a mudar de ideia…

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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