Não é demérito da resiliente equipe comandada por Roger. Pelo contrário. A música é superior ao futebol. Ainda mais quando genial – o que, convenhamos, o Athletic passa longe de ser. E o Devise é. Coloquemos da seguinte maneira: se fosse de BH, o Devise seria melhor – não maior, porque a humanidade é imbecil – do que América, Cruzeiro e Atlético.
O que vou afirmar não é necessariamente ciência exata, mas muitas vezes, para os não iniciados terem um primeiro contato com o labor de artistas, as covers que estes tocam podem ser um bom cartão de visitas. O Devise já fez versões para várias canções do Oasis, Pixies, Stone Roses, The Who, Primal Scream, Iggy Pop and the Stooges, Teenage Fanclub, Charlie Brown Jr. – esta banda acho fraca; uma das facetas dos gênios, todavia, é melhorar o mediano (ou até superar o que já é bom): pensemos no Oasis e no Beady Eye em incontáveis músicas, e nas releituras brilhantes que o Fontaines D.C., melhor banda do mundo hoje, anda fazendo do U2, do The Cure, do próprio Pixies, do The Jesus and Mary Chain, entre outras.
Aliás, falando do indescritível Grian Chatten – letrado, lindo, frontman de mão-cheia, se veste bem… –, ele anda em vias de conquistar o hat trick. Dogrel e A Heros Death são perfeitos. Skinty Fia, expressão irlandesa que significa algo como “The Damnation of the Deer”, ou em português, a “Condenação do Veado”, pelos singles inefáveis já lançados, parece que irá seguir o mesmo caminho. O Devise já tem seu triplete de ouro: Lume, Petricor, e uma espécie de EP, “Depois de Abrir os Olhos”. No sábado, no último dia 19 de Março, estive no primeiro show do Devise em 2 anos. Redondo, arrebatador. Na obra, santuário da música de BH. Mesmo sem gostar muito, tomei uma Guinness – simbolismo: ando obcecado com a terra de Roy Keane há um bom tempo (Fontaines, Normal People, lugares de beleza única, Grian Chatten, The Pogues, Sally Rooney…). Dayse Edgar-Jones, diga-se de passagem, é inglesa; caso contrário… Na “Piauí” de Março há matéria interessante que posiciona Sally Rooney como um espécie de escritora que retrata os Millennials.
O show do Devise reúne esmero de um grupo redondo, expertise, firmeza de todos os seus integrantes em seus respectivos instrumentos, maturidade de uma banda pronta, sem perder o frescor da juventude, do primal; sem deixar de espargir aquela energia que você não consegue tocar – intangível.
A abertura de “Depois de Abrir os Olhos”, “Mikechester”, entrega a influência do movimento icônico de Manchester (Madchester) – e ao mesmo tempo faz um trocadilho com o apelido de Mike, guitarrista da banda -, simbolizado por Happy Mondays, Stones Roses, outros grupos mais alternativos que mesclavam o rock com música eletrônica, e prosseguido, de certa forma, pelo Oasis. Aliás, para os fãs dos Gallagher, uma menção obrigatória: no último disco da Devise, na brilhante Aurora, a incrível Ysee, fundamental na última turnê e no disco mais recente de Noel, faz participação para lá de especial – há clipe dessa diva dançando e fazendo dueto entrosado com Luís Couto.
Depois volto a falar do Devise – e de suas relações com o futebol.
Setlist do último show na obra; “Hello” é cover do Oasis, e “Movin On Up”, do Primal Scream. A talentosa Isa Leles cumpriu com louvor a hercúlea tarefa de fazer as partes da francesa Ysee.
Mikechester
Nunca Mais
Hello
Indra
Tempo Aberto
Onde Vai Chegar
De Quanto em Quanto Tempo?
MCMX
Entre nós
Incerteza
Aurora – part. Isa Leles
Movin On Up – part. Isa Leles
Qualquer Hora
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
ham ham entendi tudo
Ham?
Que orgulho sermos lembrados nessa coluna de um cara que admiramos tanto. Obrigado, Cadu! Obrigado por ser quem você é, por amar e tentar fazer algo pela música!
Eu não sei o motivo, mas dificilmente a caixa de diálogos para participação no blog se abre. Hoje, por incrível que pareça, ela estava disponível, mas como não domino o assunto aproveitei a oportunidade para fazer esse registro. Abraços!