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Hulk, o gênio, e as cavadinhas

Hulk, Hulk… O que mais vou escrever de você?

Não satisfeito em já ter aparecido nesta – e em outras bem mais importantes – coluna umas 200 vezes só para suspirarmos com suas cavadinhas – integra um restrito rol habitado também por Romário, Reinaldo e Messi, no que tange ao vício incorrigível de assim deixar o goleiro para trás –, eis que hoje o super-herói desenterra duas novas modalidades para sua especialidade: um gol por cobertura que não originou-se de uma cavadinha, e um passe perfeito que, sim, dela surgiu.

Marvel? Pela força, ok. Mas Hulk sobrepuja os estereótipos sugestionados pelo seu apelido e pelo seu corpanzil, digamos, também peculiar. Hulk não é só potência crua, em estado primal; é arte, promove contemplação, fruição desinteressada – nos termos de Schopenhauer; Hulk nos descola das agruras, das mesquinharias da representação, transportando-nos para onde só os gênios podem nos levar, para o éden em que o mundano, as insanáveis volições do dia a dia, saem do nosso âmago por um instante – efêmero, certamente; e nem por isso menos precioso.

Hulk briga: e entre um empurrão e outro, desliza, levita, flutua pelos gramados. Exalando energia, verde de vigor reprimido, me remete dia sim, outro também, ao autoral, ao espírito tão irrequieto quanto profundo, fino, raro; nestes momentos, escapa do imaginário dos insípidos e/ou dos que imploram sem requinte pela nossa atenção, os blockbusters; entra em campo a sutileza de um “Persona”, ou o jogo de xadrez entre a vida e a morte de “O sétimo selo”.

Hulk, o do Galo, não é um produto que nasce em série. Pasteurizado? Salas das insossas cadeias de shoppings? Jamais! Hulk é Belas Artes. Como o que normalmente carrega elevadíssimo valor, não se encontra às vezes no espaço de toda uma vida, é singular, diria Spinoza – o filósofo, não o medíocre zagueiro que passou pelo Cruzeiro. Seu par no cinema, portanto, seria, vá lá, um Bergman. Ou o Max von Sydow, se elucubrarmos mentalizando o que resplandece na frente das câmeras – por esse prisma, o diretor favorito deste que vos fala encontraria sua encarnação futebolística em Guardiola. Imagina o catalão no Galo, arrancando ainda mais do “9” que de falso nada tem, porém que perambula, qual um improvável e competente bailarino, por todo o palco – leia-se, o campo? Imagina, massa?

Cadu Doné

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