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Federer e o fim de um esporte

David Foster Wallace sobre o melhor da história: “O lance do Federer é que ele é Mozart e Metallica ao mesmo tempo, e a harmonia fica, sabe-se lá como, refinada.” Um gênio regozijando-se com outro. Na música clássica, um paralelo pela elegância incomparável, intangível, responsável por nos atrair, poderosa e inconscientemente, para sua torcida; e, no caso de quem joga, às edificantes e não raramente patéticas tentativas de imitá-lo. No Heavy Metal, o espelho de alguém que distribuía impiedosa e democraticamente golpes oriundos da definitiva, da perfeita versão de um tênis ultra, mega ofensivo. Para o suíço, os fins não justificam os meios. O esplendor não se encontra, acima de tudo, no resultado – e sim na caminhada para obtê-lo. A forma permanecia inegociável mesmo diante de uma razão implacável – ele sabia que se mudasse algumas coisas teria chances superiores de bater Nadal em diversos instantes; queria fazê-lo, porém, à sua maneira. Poesia. Derrota mais bonita não há. Obsessão similar àquela que Guardiola carrega pela posse de bola.

O principal recorde de Federer, outrora aparentemente inatingível, foi batido por Nadal e Djokovic. Superado, num âmbito geral, por ambos? Por um deles? Longe disso. Parafraseando Fernando Calazans, azar dos Grand Slams. Evocando Nelson Rodrigues, que se danem os idiotas da objetividade. Ademais, há pontos bem factíveis que, por certo prisma, maquiam determinados números. O trio de ferro é contemporâneo? Em termos. Houve um Federer com uma fagulha avassaladora da juventude que, por exemplo, destroçou Agassi, que pegou menos suas duas nêmesis no timing ideal do que o contrário. Estatísticas de confronto direto passam ao largo desta importante nuance. Ignoram também que considerável quantidade de embates com Nadal aconteceram no saibro numa época em que Federer ganhava tudo e chegava em segundo em todos os certames na terra batida. Como o espanhol nem sempre se posicionava qual o finalista nas quadras rápidas, menos duelos nestes pisos ocorreram com o Deus da classe no auge.

Nova questão pouco alardeada: ao longo da carreira de Federer, as superfícies que mais o favoreciam foram perdendo doses cavalares de velocidade, beneficiando de modo inesperado seus concorrentes diretos. Os demais integrantes do “Big Four” – além dos já citados, Andy Murray –, bem mais defensivistas, ganharam um respiro talvez indevido frente ao estilo power-baseliner destruidor do rei da Basileia.

Cadu Doné

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