Enquanto principal artífice da elitista e felizmente infortunada Superliga da Europa, o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, defendida publicamente que, para competir contra os games, e outras infinitas fontes de passatempos populares sobretudo entre os jovens, o futebol precisava se reinventar.
O raciocínio amarrava a percepção de que o esporte bretão não poderia se dar ao luxo de manter tantas rodadas dos nacionais e boa parte da fase de grupos da Liga dos Campeões com duelos pouco atrativos, carentes no que tange ao teor de decisão que costumam carregar. Entrava no pacote de teses do mandatário madridista a visão de que a modalidade mais popular do mundo haveria de rever até a duração das partidas – 90 minutos seria muito tendo em vista a incapacidade das novas gerações de se concentrar minimamente em um só objeto sem que ele presenteie seus fãs com doses generosas de “recompensas” constantes.
Em suma: a intenção era acabar com a Champions, encurtar os jogos e remar contra a suposta carência de emoção com a qual o futebol padecia.
Ironia: seu Real Madrid permanece endinheirado, midiático, na crista da onda, justamente por estar em mais uma decisão europeia; isso só aconteceu pelo fato de os enfrentamentos no mata-mata decidirem-se em 180 minutos – e se necessário, com uma prorrogação (o Real abusou de esfregar de maneira definitiva sua grandeza em nossas caras somente em momentos derradeiros); a escalada da trupe de Ancelotti estarreceu o mundo por proporcionar, fazer parte de enredos pródigos em disputas épicas, heroicas, que transbordavam emoção, nos embebedavam com uma incredulidade que insistiu em repetir-se.
Tudo o que aconteceu com o papa-títulos do Velho Continente foi contra a ideia que Florentino associava ao futebol atual, ocorrendo em cenários que seriam impossíveis caso já vigorasse o que ele idealizava – será que mudou de ideia?
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