O Cruzeiro fez um bom primeiro tempo. Nada além disso. Ligeiramente superior ao do Grêmio. Assim sendo, ainda que o gol tenha sido gerado num lance em considerável medida fortuito, não dá para cravar que o triunfo celeste na primeira metade do cotejo mostrou-se um disparate. Ao contrário: materializou-se justo.
Na etapa derradeira, a partida seguiu com boa dose de equilíbrio, mas o enfrentamento, que já não fora um esplendor do ponto de vista técnico antes do intervalo, tornou-se ainda mais enfadonho no que tange às chances de gol, por exemplo (a não ser durante certa pressão que os gaúchos exerceram no final). Neste período do clássico nacional, a Raposa atingiu nível no máximo “ok”; “aceitável”. Houve uma queda com relação ao primeiro tempo em termos de volume, capacidade para construir.
A principal notícia hoje, todavia, não estava nas quatro linhas. Além de ter esgotado os ingressos, a torcida do Cruzeiro manteve-se com comportamento impecável durante cada segundo dos noventa minutos. Há meses tenho comentado com amigos, companheiros de profissão: aquele tipo de movimento que passa até pelas esferas sociais, antropológicas, filosóficas, desenhado quando fãs aumentam o caldo de energia, de veemência, de apoio, em função de uma espécie de “forjamento na dificuldade”, tem ocorrido na China Azul.
Em determinadas ocasiões, fenômenos deste calão, um tanto intocáveis, intangíveis, por mais que se espalhem nas ruas, nos espaços públicos, não se traduzem nos estádios. Neste domingo das mães, no Independência, pude notar a transferência exata de um sentimento de acirramento positivo da paixão pelo clube que apreendia no cotidiano – e não andava detectando, com alta frequência, no mesmo patamar, no Mineirão.
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