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Ignore o ignorante?

Os episódios de racismo em jogos pela Libertadores ao longo desta semana foram tão numerosos quanto totalmente escancarados, acentuados, caricatos. A ojeriza, o asco, ganharam, no meu âmago, o colorido fúnebre da raiva, da aversão, de uma revolta talvez incontrolável. No meu caso, sempre acompanhada de Schopenhauer, Cioran, e Thomas Ligotti, toda esta massa cinzenta recarrega o pessimismo.

Em geral, sempre fui favorável às punições individualizadas – e somente a elas, de determinado modo. Duras, óbvio. Não há nada pior, por diferentes nuances, do que o racismo. Considerava – não sei o tempo verbal que uso aqui… –, a não ser quando negligência, imperícia, imprudência (elementos que, no nosso direito, levariam à classificação do ato como culposo), ou o dolo propriamente dito de um dos clubes envolvidos na peleja, de uma federação, se materializavam, que desdobramentos como “tirar pontos” soariam até ofensivos, tamanha sua irrelevância perto de crimes tão hediondos. Tirar o sofá da sala…

Entretanto, as manifestações racistas andam se multiplicando tanto, tudo saiu tanto do controle de uma mínima civilidade, que, hoje, confesso, meu abalo me leva a desejar sanções para tudo quanto é lado. Vamos sair punindo todo mundo para amainarmos drasticamente – impossível a erradicação, conhecendo minimamente a condição humana – esse sentimento tão tacanho, tão errado, tão burro, tão criminoso quanto o racismo. Eliminar clubes, impedir torcidas de entrarem por mil anos, suspender até minha vó lá no céu… Sei lá… Tem de ser muito cego para não perceber que, seja lá o que estamos fazendo para coibir o racismo, não está dando certo.

“Ignore the Ignorant” é título de um disco sublime da excelente banda inglesa indie The Cribs, que contou com participação sólida de Johnny Marr – ex-Smiths e mais um gênio a torcer pelo Manchester City (Noel Gallagher, Ian Curtis, Guardiola, Juca Kfouri…). Em posts vindouros continuarei abordando as mazelas do racismo que se espalha “ao redor” do esporte bretão, os motivos pelos quais utilizo agora, e usarei no futuro, a referência inspirada na família Jarman nos títulos deste malfadado e deserto blog.

Cadu Doné

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